quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Imagens da exposicão em São Paulo - Fotos Marcio Fischer

Oficina de Tipografia

No último sabado (20/02) aconteceu na Caixa Cultural a oficina de tipografia com o Designer e Tipógrafo Marcos Melo da Oficina Tipográfica São Paulo. Esta oficina faz parte de uma série de encontros que estão sendo promovidos pela Exposição Brava Gente. Confira as fotos:

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Tide Hellmeister - Um destruidor de vaidades

Tide Hellmeister (1942-2008) é associado à colagem. Nada mais justo, por ser um mestre do gênero e um dos responsáveis pela técnica ganhar no Brasil o status de um recurso plástico dos mais complexos e ricos em suas múltiplas decisões seja no ato de escolher o que seria colado, seja no ato de selecionar onde isso aconteceria.
    A prática da colagem está relacionada, em Tide, a outros aspectos das artes plásticas, como o desenho, a pintura e a caligrafia. Diversas técnicas caminham em conjunto na forma de expressar uma visão de mundo crítica, irônica e onírica tanto ao tratar da figura humana como nas mais variadas e criativas composições.
    A sua experiência com gráfica e tipografia e o seu poder de observação do cotidiano o levaram a um grau de excelência na elaboração de personagens, para os quais inventava também narrativas, e no estabelecimento de um estilo facilmente reconhecível, fruto da grande familiaridade com aquilo que desejava trabalhar.
    Seguramente o que mais impressiona no artista paulista é a forma como oferece uma leitura da realidade sem perder o bom humor, mas com um certo tom amargo. A ilusão da perenidade da existência, a excessiva seriedade do mundo e as mais diferentes manifestações de vaidade são destruídas pelo artista com a tesoura, a cola e o pincel.
   
Oscar D’Ambrosio, jornalista e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA- Seção Brasil).

Tide Hellmeister - O Álter Ego de Deus

Deus, em sete dias, criou o Universo e tudo o que existe nele. Tide, há 50 anos, recria essa obra divina todos os dias. Deus criou o homem à Sua semelhança. Tide o recria nas suas dessemelhanças, sob um olhar curioso que visita, respeitosamente, os mais profundos cantos da alma humana. Deus cria o real. Tide o surreal. Ao se completarem na invenção do mundo e de seus habitantes, na construção da arte de viver — ambos são indispensáveis. Quem acredita em Deus, não descrê de Tide. E vice-versa.

Por RICARDO VIVEIROS

    Nascido em 1942, na cidade de São Paulo, Aristides de Almeida Hellmeister, é mais uma dessas especiais criações de Deus. Um entre muitos, a cada novo século. Tide foi educado sob a aristocrática influência de uma neta da Baronesa de Jundiaí, cujos antepassados já haviam “adotado” também seu avô e seu pai. Desde menino sempre desenhou, embora sonhasse ser como o pai ao se tornar adulto. Tide sempre foi companheiro daquele homem raro, de hábitos refinados e antagônicos, a quem com ternura admirava. Afilhado do escritor Mário de Andrade, seu pai era capaz de ouvir ópera em alto volume, com a mesma naturalidade com que ficava bêbado no botequim da esquina. Cantor frustrado, funcionário burocrático da companhia telefônica, cedo se desencantou com a vida. Aliás, foi de tanto servir cachaça para seu pai que Tide, buscando entender razões que a própria razão desconhece, um dia resolveu experimentar um gole e despertou o alcoólatra que havia dentro de si.
    Enquanto bebia para esquecer o que jamais poderia lembrar-se, porque ainda nem realizara o suficiente, encontrou e perdeu oportunidades. Levado por um tio radialista conheceu o cenógrafo Cyro del Nero, com o qual começou na TV Excelsior. Fazia os letreiros para os intervalos comerciais e ajudava nos cenários. Criativo e ansioso não teve paciência para concluir um curso de desenho. Foi a colagem, também desenvolvida no Estúdio 13, do mesmo Cyro, que o apaixonou. Os primeiros trabalhos, que incluíam uma criança com um peixe saindo pela boca, foram considerados “monstros”, mas elogiados pelo pintor Wesley Duke Lee. Animado pela opinião do conhecido artista, seguiu produzindo colagens. Autodidata, fugiu do “Liceu Pasteur” ainda no Ensino Básico — no qual foi colega do médico e escritor Dráusio Varela e do pianista Antonio Carlos Martins —, o jovem Tide sempre foi uma pessoa sensível, elegante e curiosa.


CORAGEM & COLAGEM
   
    Quando descobriu a coragem e acreditou em si mesmo, saltou do pesadelo que vivia despertado por flores — e nunca mais bebeu uma só gota de álcool. Filho de Deus, Tide renasceu pela visão da felicidade, uma iniciativa divina. Afinal, Deus precisava de um “parceiro” que — com arte — o ajudasse a recriar o universo, as pessoas e a vida. Porém, precisava ser alguém simples, puro e capaz de olhar o próximo diferentemente de a si mesmo. Um ser humano maior, que houvesse redescoberto a alegria de viver e, com amor próprio, soubesse também amar todas as pessoas sem preconceitos. Salvo da armadilha do destino, Tide tornou-se o álter ego de Deus. E passou a trabalhar na reconstrução da vida, criando paisagens e personagens capazes de revelar outro mundo.
    Além da TV Excelsior e do Estúdio 13, o artista produziu inúmeros trabalhos para editoras (projetos de arte, capas e ilustrações de livros): a vanguardista Massao Ohno — responsável pelo lançamento de poetas brasileiros (na qual conquistou o Prêmio da Bienal Internacional do Livro do México, em 1964) —, Editora Brasiliense (toda a coleção de Graciliano Ramos), Companhia Editora Nacional, Melhoramentos, Círculo do Livro (onde foi diretor de Arte), Best-Seller e Abril Cultural (para as quais foi consultor de Arte). Tide também criou capas de discos para a RGE, Fermata, RCA Victor e Philips, tendo recebido, na Argentina, o prestigiado Prêmio “Leo”, como o “Melhor Capista” de 1966. No Jornalismo, foi diagramador, ilustrador e diretor de Arte em vários veículos: “Jornal da Tarde” (um dos mais bonitos projetos do gênero no Brasil, feito com Mino Carta), “Última Hora” (que inovou a linguagem à época), “Folha da Tarde”, “Gazeta Mercantil”, “O Globo” e “O Estado de S. Paulo” (nesses dois últimos, ilustrou os artigos do jornalista Paulo Francis). As revistas não ficaram de fora: “Roteiros de Viagem”, “Problemas Brasileiros” e, como diretor e consultor de Arte da Editora Abril, atuou nas principais publicações da empresa, de “Exame” à “Placar”.
    Tide ilustrou catálogos para importantes exposições de pintores, entre os quais Guignard, Rebollo, Penachi e, em razão desses trabalhos, conquistou o Prêmio de “Melhor Programador Visual” da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 1973. Por 11 anos foi diretor de Arte da Federação e do Centro do Comércio do Estado de São Paulo (incluindo o Sesc e o Senac). No campo da publicidade, produziu para agências e anunciantes como a DPZ Propaganda e o Banespa. Sua arte deu expressão a campanhas para a General Motors, Levi Strauss e Souza Cruz. A arte de Tide está registrada em quase uma dezena de livros, entre os quais ressaltamos “Inquieta Colagem”, da Infolio Editorial — o artista criou 200 capas diferentes, originais por ele assinados. Em 1987 montou seu próprio estúdio, “Collage”.
   

OS FILHOS DE DEUS

    Em suas viagens no Metrô, Tide observou os demais passageiros e criou uma espécie de retrato da alma para alguns deles. São “Os Filhos de Deus”. Cada um tem, além do rosto, feito à luz de um olhar pessoal do artista, também uma história: nome completo, data de nascimento, nacionalidade, profissão e morte. São dezenas de pessoas recriadas por esse “parceiro” de Deus, construídas com base em um imaginário surrealista, que ocupa instigantemente o espaço da tela com pintura à óleo e colagens. São trabalhos fantásticos, de grande criatividade e refinamento. Tide demonstra total domínio técnico da pintura: traços, volumes, cores e, em especial, luz, muita luz, como se cada personagem tivesse vida. Os elementos agregados valorizam cada obra, somando-lhes pedaços da história de todos nós.
    Tide — diferentemente de outros mestres da colagem, como Teresa D’Amico, Ubirajara Ribeiro, Sérgio Lima, Scliar ou, ainda, Matisse, Braque, Picasso, Jean Arp, Max Ernest, Robert Rauschenberg —, não é erudito, não teoriza a arte. É autodidata na profissão como foi na vida. Senta, olha o espaço e produz sem ter planejado nada. A obra nasce e cresce como a natureza, sem limites. Para Tide, cada trabalho é sempre o primeiro, e o cria despretensiosamente. Sua arte surge da insatisfação, é feita com certa preguiça em existir e por isso utiliza-se de sobras. Trabalha 18 horas diárias, em média. A arte é o que o mantém sóbrio e vivo. Sente-se útil ao deixar um legado à posteridade — mas, tenham certeza, sem nenhuma vaidade, sem acreditar que é um grande artista. Sua matéria-prima é apenas a emoção. Tide cria como quem acredita no futuro, a partir do sorriso de uma criança de rua. Sua arte nasce com a simplicidade da grandeza humana, plena de esperança. Por isso, é divina.


Ricardo Viveiros, em junho de 2008, para a Revista Abigraf.              

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sergio Lucena e Cláudia Lopes

Caros amigos,
Tide Hellmeister está no Espaço Cultural da Caixa na Sé, por certo, ao menos para mim, lá ele está como antes nunca o vi em lugar algum, mesmo quando conosco ele ainda estava. Tide Hellmeister está inteiro, composto de, e por toda "Brava Gente" que ele soube ser. Ele está lá, cada um deles, ou de nós, com suas biografias e naturezas tão únicas como único é este artista. Seus personagens trágicos, cômicos, patéticos, humanos, revelam um olhar acido mas não sem humor, um humor que desconcerta por mostrar que nada somos sendo tudo. Tide é aquilo que evitamos, a consciência do que somos e a responsabilidade que isto implica, mas nem de longe é um acusador.  Muito pelo contrario, diante os personagens do Tide nos deparamos  com a compreensão do fato que nem só as boas intenções nos bastam para alcançar a salvação, que a capacidade de responder pelo que afirmamos ou fazemos não apenas conta como é determinante. Tide é o bom Saturno e como é da natureza saturnina, dá-nos exatamente o que pedimos ou merecemos. 
Conheci o Tide, tive este privilegio, ou quem sabe merecimento dado a admiração mutua que havia entre nós, mas nunca tivemos o tempo necessário para um encontro maior. A vida sempre nos manteve a conta gotas, a alegria dos breves encontros, as promessas de visita mutua que não se cumpriram...  Daí ele se encheu e foi cuidar da vida noutras paragens.
Que alegria foi, finalmente, encontrá-lo em sua casa, finalmente ir visitá-lo e realizar um sonho tão acalentado...
Lá está ele recebendo a todos com um carinho indescritível, uma nobreza irreparável, uma generosidade sem fim.   Tide está manifesto inteiramente na mais bem montada exposição que se pode imaginar, algo construído com amor, um carinho e um respeito aliados a uma inteligência cenográfica e arquitetônica que mais que fazer jus ao Tide,  o revela.   Finalmente Tide em toda sua sofisticada grandeza.  
Aqui é importante observar algo nada é gratuito, o Tide inteiro, fabuloso, mágico, transcendente que lá no Espaço Cultural da Caixa na Sé nos espera é o Tide que só o amor poderia nos revelar, o amor e o carinho de duas criaturas que identificaram no Tide sua natureza, e com isto o significado do que são elas próprias. O que lá nos espera é algo que só o amor é capaz de produzir: uma REVELAÇÃO.
A Claudia Lopes e Simone Ajzental, a estas duas fadas, meus agradecimentos e cumprimentos mais sinceros.

Muito obrigado,

Sergio Lucena

______________________________________________

Sérgio
o nosso olhar é o que nosso interior nos permite ver, sempre em nossas conversas vc revela a magnitude de sua alma, a generosidade de seu coração. Obrigada por ter prestado tanta atenção em cada pequeno detalhe aos quais nos dedicamos. Obrigada por ter parado para sentir o que reside nesta homenagem singela, que no fundo tive receio de não corresponder a estatura da obra.  Tide é um mágico, um sensível extremo, de paixões intensas. Em cada montagem quando estávamos preparando até chegar nas obras os ambientes eram inabitados. Porém quando das caixas as obras saiam as maravilhas de Tide eu me sentia amparada, viva e mais que tudo me deixando pertencer ao mesmo tempo em que também obtinha a propriedade do pertencimento.
O destino desfiou uma linha tênue entre minha alma e o Tide, sinto-o profundamente em meu coração e nos momentos mais criativos do trabalho sentia-o em meu raciocino, atuava intenso em minha força criativa. Eu sei, esta força está aqui, dizendo dentro como mostrar a poesia concomitante pesada e super leve que obra traduz. Como Clarisse Lispector que vale sempre mais uma leitura, o Tide me pegou de jeito, na curva... Estou rendida, sem defesas diante da intensidade daquele olhar.
Os olhos do Tide, os seus olhos, os nossos olhos se revelam em cada pincelada. Talvez numa femilidade excessiva e numa submissão absoluta que a pintura para mim se impõe, minha personalidade forte e também pouco doce quis se esconder... Não mostrar a sensibilidade que tento abafar, mas defronte a grandezas como as do Tide e as suas,  como me esconder?! Fico sem saída... É como se tivesse que apresentar meu cerne, sem escapar, e, então a explosão de amor e paixão se impõe numa mistura de obras de mestres e a visão da fã e discípula. A correlação entre receber e doar se dá em verdade no âmago do mais belo do humano o verdadeiro amor, que só é, sem precisar de nada para ser e estar.
Obrigada a vc por nos receber em sua vida e seu coração 


Cláudia Lopes

sábado, 23 de janeiro de 2010

Dia 30 em São Paulo!!

A exposição está chegando à São Paulo no próximo sábado, dia 30/01, na Caixa Cultural da Praça da Sé.

Saiu na Veja São Paulo:
"O paulistano Tide Hellmeister (1942-2008) é mais conhecido pela carreira nas artes gráficas. Passou por vários veículos da imprensa, ganhou prêmios em bienais de livros e ilustrou durante sete anos a célebre coluna Diário da Corte, do jornalista Paulo Francis. Mas o profissional foi também um pintor de qualidade e, sobretudo, de uma originalidade marcante. No percurso entre seu ateliê, na Praça da Árvore, e o trabalho, no centro da cidade, costumava observar os passageiros dos ônibus. Depois os pintava em forma de pitorescos tipos fictícios. Hellmeister chegava a criar biografias imaginárias e dava nomes aos personagens, a exemplo de Assumpta de Carvalho Rosa e Benjamim Castrado Cunha. A mostra Brava Gente, na Caixa Cultural da Sé, reúne 58 telas dessa série de figuras curiosas, além de duas obras tridimensionais. A montagem apresenta ainda seis histórias escritas pelo próprio artista sobre suas criações — o espectador poderá ouvi-las por meio de telefones antigos." Jonas Lopes


Caixa Cultural
Endereço: Praça Da Sé, 111

Quando: (Dom, Ter, Qua, Qui, Sex e Sáb) e feriados das 09h00 às 21h00. Grátis. 
Acontece até o dia: 28/03.