sábado, 29 de agosto de 2009

Brava Gente, um tributo de Tide Hellmeister

Certa vez perguntaram a Federico Fellini por que ele escolhia personagens e figurantes tão esdrúxulos para os seus filmes. Ele mesmo contou, em uma entrevista, quem fez a pergunta: uma senhora, dentro de um carro, usando um tapa-olho e com um mico no ombro.

Tide Hellmeister, um dos nossos mais importantes artistas, concordaria com Fellini, se lhe fizessem a mesma pergunta sobre os singulares personagens que compõem esta “Brava Gente”.
Somos todos nós, e de perto quem é “normal”?

Tide criou seus personagens a partir da observação do cotidiano, dos passageiros do metrô, do ônibus, dos caminhantes nas ruas. No estúdio, imaginava a história de cada um e recortava e colava e pintava seus rostos: tristes, bondosos, malandros, egoístas, avaros, generosos, abatidos, conformados, espertíssimos, tantos...

Todos com data de nascimento e de morte, as duas únicas certezas que a espécie humana
possui, e a história que construíram para preencher esses espaços.

Pessoas humanas, demasiadamente humanas: Pedro, Cornélio, Julio Prosa de Jesus, Domingos,
Theofilo, Gherard, Assumta, João, Benjamim, Eli Regina, Emilio, Nilo, Licurgo, Hipólito.

Pela primeira vez o homem da tesoura e do pincel, o artista gráfico que conquistou um lugar
único, o homem para quem “tudo é colagem”, o artista das tantas faces, que se dizia
“sem palavras”, usou da palavra: sentou e escreveu.

Montou o seu teatro com tesoura, papel, tinta e escrita, como sempre fez, aliás,
mas desta vez, escreveu histórias.

Todas impregnadas de compaixão pelo semelhante, pelo irmão, por essa Brava Gente brasileira que agora é apresentada ao público sob forma de arte de grande qualidade, como sempre foi sua produção.

Logo agora, que ele avisou: “fui ali e volto já”.
Nem precisa voltar, já que nunca partiu: a marca forte e bela de sua passagem sempre continuará entre nós.

Elizabeth Lorenzotti

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